Recebi um artigo que deve ser publicado pelo interesse, profundidade e atualidade. É de autoria de uma pedagoga, que foi presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul por duas vezes, sendo atualmente representante da Federação Espírita do Rio Grande do Sul perante o CONER.
O ENSINO RELIGIOSO
O Ensino Religioso, de acordo com o artigo 210 do Constituição Federal de 1988, é uma disciplina de horário normal nas escolas públicas do ensino fundamental, respaldado pelo artigo 209 da Constituição Estadual de 1989 que estende a obrigatoriedade também para o ensino médio.
O ensino religioso deve compor o currículo da escola como uma “parte integrante da formação básica do cidadão”, com a característica de interreligiosidade, com o objetivo de apresentar o transcendente nas diferentes culturas e tradições religiosas, considerando a diversidade de crenças existentes no Brasil, sem qualquer forma de proselitismo, de acordo com o artigo 33 da LDBEN 9394/96 para que o aluno possa refletir sobre sua dimensão espiritual.
O sistema de ensino oficial necessita reconhecer que o aluno é um ser que interage em suas várias dimensões: biológica, psicológica sóciocultural, histórica e espiritual.
A área de conhecimento trabalhada pelo ensino religioso deve voltar-se para o desenvolvimento e a educação da inteligência espiritual e da inteligência emocional do aluno.
As pesquisas na área da neurociência comprovam, na atualidade, que a pessoa não possui somente a inteligência intelectual, que precisa ser desenvolvida pela instrução, pelo adestramento, ela possui aptidões para a inteligência emocional (QE) e inteligência espiritual, entre outras.
A inteligência emocional deve ser educada desde a mais tenra idade, através da linguagem simbólica da literatura infanto-juvenil e demais expressões das artes e dos exemplos práticos das atitudes dos adultos, para que sejam trabalhadas e educadas as emoções básicas, como o medo, a raiva, a tristeza, a alegria e o afeto. O recurso didático de uma boa história, das fábulas, dos contos que estimulam a emoção, a imaginação e a criatividade da mente infanto-juvenil.
Quanto à inteligência espiritual, Danah Zohar, física e filósofa norteamericana, juntamente com o psiquiatra Jan Marshall, no livro “Inteligência Espiritual” afirma que essa é a terceira inteligência que deve ser educada para que seja dinamizado o potencial divino que existe dentro de cada um, possibilitando colocar nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor.
A pessoa que apresenta um alto quociente espiritual (QE), porque foi educada nessa área, apresenta uma capacidade de usar sua dimensão espiritual direcionada para uma vida mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal, desenvolve valores éticos e crenças positivas que nortearão suas ações. O desenvolvimento desse potencial, através da educação moral e ética, vai ajudar o aluno das escolas de nosso Estado a construir uma identidade moral positiva e, em conseqüência, criar para si uma vida que valha a pena ser vivida e que lhe proporcione felicidade e paz. Não será isso que está faltando em nossas escolas?
Os cientistas que estudam os diversos compartimentos do cérebro humano afirmam que numa dessas áreas está “o ponto de Deus", que se ilumina, durante uma sessão de tomografia cerebral quando o paciente é estimulado auditivamente por assuntos transcendentais.
Em relação ao ensino religioso, deve se levar em consideração a proposta de educação para o terceiro milênio, da UNESCO, levantada no estudo do relatório de Jacques Dellors e apresentada pelo grande educador francês Edgar Morin, aponta quatro pilares sobre os quais deve se embasar a educação das novas gerações: aprender a conhecer – abrir-se para novas conquistas na área do conhecimento, renovar-se; aprender a fazer – instruir-se tecnicamente para executar as atividades desafiadoras do mundo atual; aprender a conviver - ou seja, viver em grupo com harmonia, aceitar o outro como ele é, respeitá-lo, viver em alteridade, ser altruísta; aprender a ser – desenvolver a sua humanidade, autoconhecer-se, amar-se. É uma proposta arrojada, sobre a qual a escola precisa refletir e planejar novos rumos, engajando-se nesses novos tempos e oferecer aos alunos situações de ensino-aprendizagem que o ajudem a integrar-se harmonicamente consigo mesmo, com o próximo e com Deus para que eles se transformem em homens de bem, felizes e equilibrados, interagindo de forma positiva na sociedade.
Para o nosso entendimento, esse desafio está diretamente ligado à disciplina do Ensino Religioso na escola.
Nas atividades escolares precisa ser incluída a questão da religiosidade, Muitos problemas vivenciados hoje, nas dependências escolares, como o bullying, o baixo rendimento escolar, as reprovações, a agressividade, a violência, o desrespeito a professores, colegas e ao prédio por certo seriam atenuados se alunos estivessem sendo trabalhados na área da espiritualidade.
No que concerne à regulamentação legal para a habilitação dos professores do Ensino Religioso, a Resolução 256 do Conselho Estadual de Educação busca estabelecer os critérios que devem nortear a contratação de professores da disciplina.
O CONER/RS (Conselho Estadual do Ensino Religioso do RS) - previsto no artigo 33 da LDBEN, credenciado junto ao Sistema Estadual de Ensino pelo Parecer do CEED 75401 - é uma entidade civil que tem por finalidade congregar as denominações religiosas interessadas no processo de definição, regulamentação e construção de conteúdos básicos na busca de meios e condições para assegurar a tutela do direito à liberdade de consciência religiosa e ao direito do ensino religioso na formação básica do cidadão, propondo-se a colaborar nesse processo de e na formação de professores para que seja suprida a falta de educadores habilitados para tão importante componente curricular nas escolas gaúchas, proporcionando aos alunos a oportunidade de despertar a consciência de suas potencialidades positivas.
Gladis Pedersen de Oliveira – Pedagoga
Conselheira do CONER/RS